Chega a ser engraçado a quantidade de vezes que eu escuto que a concorrência é algo negativo. Esse pensamento se intensificou nesse 2020 com a crise. “Colaboração” dizem eles, “concorrência é algo nocivo, é ruim.” É claro que colaboração é importante; em muitos casos, essencial. Eu, por exemplo, defendo a colaboração entre academia e mercado – desde que o Turismologia teve início, esse é um dos pilares que comunico. E é também um dos meus valores pessoais.
No caminho da praia, enquanto dirigia, eu ia pensando no quanto o trânsito nos ensina. Claro, quando dirigimos – não somente como passageiros. Caso você não tenha entendido a analogia: quando assumimos riscos e responsabilidades, e não apenas quando assistimos aos demais fazerem-no.
Veja, dirigir exige alguns pontos cruciais, que coincidentemente – ou não – também são elementares em uma relação de concorrência.
Deixa eu explicar. Quando estamos sozinhos em uma estrada, a estrada é toda nossa. O caminho é tranquilo, vamos na velocidade que queremos, comandamos a nossa direção da forma que acharmos melhor. Não temos nenhum outro carro com o que nos preocupar, as curvas são mais suaves, e se queimamos um pouco da linha e chegamos na pista contrária, tudo bem, estamos sozinhos – sem risco para nós e para qualquer outra pessoa.
O caminho, no entanto, pode ficar entediante. Há inclusive, maior possibilidade de cairmos no sono e causarmos acidente. Afinal, a forma de dirigir parece não mudar. Não precisamos mudar, afinal.
Essa é a história sem concorrência. Tranquila, sem muito com o que nos preocupar a não ser nós mesmos, podendo diminuir a velocidade nos obstáculos e pensar nos próximos passos. Temos tempo, espaço e energia.
Em uma estrada movimentada, por outro lado, precisamos estar muito mais atentos. Os outros veículos exigem atenção constante, demandam que andemos na linha, que reduzamos a velocidade na curva, que não ultrapassemos para a faixa contrária.
Os outros carros – mesmo que sem que se deem conta – nos fazem acelerar e frear muito mais vezes, às vezes mais bruscamente. Perceba que os outros carros acabam por ditar as regras, de vez em quando.
Veja que nesse caso, que a concorrência existe, o caminho é mais tumultuoso, mais rápido, menos entediante. A concorrência faz com que nós nem sempre tenhamos tempo de aproveitarmos o caminho e desfrutarmos da paisagem, porque exige que estejamos sempre atentos – à nós e aos demais.
A estrada também nos ensina a confiar nos outros. Mesmo que não completamente, mesmo que não o tempo todo. Mas somos obrigados a confiar que os outros veículos terão um comportamento esperado – como se estivéssemos em um tabuleiro de jogo – as regras estão lá.
Alguém sempre pode roubar – mas as regras estão lá. E precisamos ter um nível de confiança - porque sozinhos não fazemos muito.
Por outro lado, percebemos que ter confiança nos outros, exige muito mais atenção de nossa parte. Porque, se eles decidirem por um movimento inesperado, precisamos reagir rápido também.
Nesse caso, a concorrência são os outros veículos.
A concorrência da sua empresa, são as outras empresas.
A sua concorrência profissional no Turismo é o profissional da administração, da contabilidade, da publicidade, da engenharia... E do Turismo. Sim, do próprio Turismo.
A concorrência é o melhor caminho para aprendermos a viver, a trabalhar em equipe, a confiar, a reagir rápido, a fazer muitas coisas ao mesmo tempo, solucionar problemas e a gerenciar muitas tarefas ao mesmo tempo. E tudo isso sem terminar com o tanque de gasolina - para chegar ao final com o custo mínimo.
Os outros veículos nos mantém atentos à estrada. A concorrência nos mantém inovando, reagindo, agindo antes e inovando.
Não fale mal da concorrência.
Seja melhor que ela. Mais rápido que ela. Aja antes. Aja de forma estratégia.
Ame a concorrência. Mesmo quando ela avança o sinal.
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